Um sinal de velhice é contar reminiscências de muitos anos. Eu assumo a minha, feliz pelo que vivi. A velhice é uma etapa da vida que não é oferecida a todos. Para quem aceita o fato da transitoriedade dessa vida e está feliz com o que fez, a velhice é uma bênção.
No início dos iluminados anos 70 moravam em Salvador da Bahia: Jorge Amado, Carybé, Vinicius de Morais, Mãe Menininha do Gantois e os hoje notáveis: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulo Coelho e Raul Seixas. Este último era estudante de filosofia na UFBA, cabeludo e irreverente, ele gritava nos corredores: “Pare o mundo, que eu quero descer!” Era o nosso “Maluco Beleza”. Paulo Coelho, que era o letrista de Raul Seixas, hoje seus livros são traduzidos em 75 línguas e lidos em 170 países. Ele mora num castelo em Tarbes, no sul da França. Em setembro de 2011 ele lançou aqui em Roma ALEPH.
No meio dessa plêiade estava eu, jovem religioso e estudante de psicologia na UFBA, numa turma com duas celebridades: Martha Vasconcellos Loureiro, a miss universo de 1968, que fez psicologia após seu reinado no ano de 1969. Era a simplicidade em pessoa, ela comprava pipoca e comia com as colegas sentada nos degraus, e enquanto algumas falavam de “meu terapeuta” ela citava seu “Diretor Espiritual”, que era Dom Timóteo, Abade do Mosteiro de São Bento. A outra ilustre da turma era Paloma Jorge Amado, filha de Jorge Amado, o que me possibilitou conversar com Jorge Amado algumas vezes, em sua casa no Rio Vermelho. Ele escrevia numa velha Remington e uma vez me disse: “Frei, eu sou um trabalhador braçal”.
O autor mais discutido em psicologia do desenvolvimento era o suíço Jean Piaget *1896- +1980, que vivia ainda. Era o grande especialista em psicologia da infância, muito minucioso Piaget conseguia detectar e descrever detalhes na evolução da maturidade infantil no espaço de um dia para outro, ou menos. Em psicologia do desenvolvimento falava-se em primeira infância de 1 a 4 anos; segunda infância de 5 a 9 anos e em terceira infância de 10 a 13 anos. Essa última fase logo virou “pré-adolescência”.
Da velhice não se falava muito. Apenas generalidades como: após os 45 anos começa a involução com variações que dependem da higidez física pessoal, das condições de vida, das extravagâncias no comer e sobretudo no beber... e ainda de carência alimentar em alguns casos.
Aos 60 anos chega a velhice, algum tempo depois a decrepitude... sem maiores comentários. Hoje, eu constato na literatura sobre o tema, uma inversão no tratamento dos assuntos infância e velhice. As fases da infância não são mais tão detalhadas. Autores americanos falam em (old children), velhos meninos, apenas aos11 e 12 anos de idade. Nessa tenra idade já são pessoas “cansadas da vida”. Marcadas pela doença que caracterizou o fim do império romano “taedium vitae”, isto é, o enjoo de viver.
A velhice agora passou a ser mais estudada e a receber muito mais cuidados e destaque. Para começar adotou-se o eufemismo, “terceira idade” e pouco se usa o termo velho. Nos EUA e aqui na Europa aparece muito a expressão “novo velho”, querendo dizer “velho novo”.
Assim como a infância antigamente, agora foi a velhice que passou a ter várias fases: A primeira é a dos (young old) jovens velhos de 65 a 69 anos; a segunda é a dos (middle old) médios velhos de 70 a 74 anos; a terceira é a (old old) plena velhice de 75 a 85 anos e a quarta a dos (oldest old) super velhos de 86 anos até a morte.
Alguns estudos mostram um notável aumentos na expectativa de vida. Os cientistas mais otimistas dizem que por volta de 2030 serão numerosas as pessoas que ultrapassarão os 100 anos de idade e muitas, os 110 anos. Isso graças as milagre da medicina. De parabéns os médicos e os outros profissionais da área de saúde ligados à terceira idade.
Frei Hermínio Bezerra OFMCap.
De Roma, para O DIA
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